Reconhecer uma doença em um filho dói. É duro ver o ser amado em uma situação em que pouco se pode fazer. Em doenças graves a aflição natural dos pais é mais um obstáculo a superar. É difícil lidar com a própria limitação em casos que abalam a saúde. Também é difícil não ter as respostas sobre que rumo a vida do pequeno terá (não importa a idade que ele tenha, sempre será aquele que você quer proteger).
A doença de um filho escancara a verdade de que temos pouco controle sobre a vida e nenhum sobre a morte. A dor humana de lidar com a finitude chega a qualquer hora e idade. A adorável fantasia infantil de onipotência materna e paterna desaparece abruptamente, exigindo dos pais demonstrarem o quanto são fortes mesmo não tendo os superpoderes que os filhos lhes atribuíram.
Não há um manual de como lidar com isso, não há um guia de boas maneiras para os pais que vêem seu filho frágil e debilitado. A única orientação universal para a família é a união.
União familiar parece algo simples, mas na prática nos momentos turbulentos ela é abalada. É usual ver os pais e irmãos se afastarem do enfermo e de todos os outros membros da família (não afastamento físico, mas emocional). Essa esquiva surge para não demonstrar o próprio medo, em uma tentativa de apaziguar o peso que o adoentado já carrega.
O isolamento emocional ao não expor e não dar chance do outro expor seu medo ao invés de fortalecer a pessoa a priva de dividir sua experiência e pode se tornar mais uma angústia.
Ouvir a dor e os medos do outro, mesmo que aumente momentaneamente o nosso medo, é estar presente emocionalmente. Só a presença física é o mesmo que uma casca de árvore que vazia tem pouca serventia.
Compartilhar os medos e fraquezas une pais e filhos. Fugir da ocasião de ajudar para manifestar força é perder a oportunidade de verdadeiramente apoiar. O acompanhamento real e sólido faz quem precisa perceber que não está sozinho, mesmo quando pais e filhos choram juntos.
* Os transtornos alimentares não são classificados como doenças, mas a relação do cuidador com a pessoa com o transtorno é muito parecida com a dos pais e um filho adoentado, principalmente no que se refere à sensação de impotência. Mostrar seu lado humano ao jovem com transtornos alimentares tende a melhorar a relação.
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